quarta-feira, 14 de abril de 2021

Radio novela, Testamento e Queima do Judas

Queima do Judas Vila do Conde 2021

sábado, 3 de abril Radio novela, Testamento e Queima do Judas


Testamento do JUDAS



Posso eu não ser poeta

Mas é certo ser problema

Evitei a linha recta

Assim nasceu o poema


Ao dizer o que sentia

Semelhante ao pensar

Esbarrei na apatia

De quem não sabe voar


Fiz-me cinza e viagem

Ri de tudo e de todos

Sem medo da outra margem

Escapei aos vossos lodos


Mais do que palavras fofas

Que o vento há-de levar

Deixo-vos um par d’alcofas

Prós pensamentos deitar


E poder vê-los crescer

Fazer-se grande a obra

O Inverno esquecer

Da noite já pouco sobra


Fazer da arte invento

Capaz do pão pôr na mesa

E mais algum alimento

Prá vida manter acesa


Quem governa se governa

Está escrito é assim

Ou dás depressa à perna

Ou lá se vai o teu rim


Eu também não fui por aí

Nem mesmo por acolá

Tantas vezes eu caí

Não havia ninguém lá


A Vila dá-se ao mundo

Às postas na internet

A cultura vai ao fundo

Sempre a mesma cassete


Nossa princesa do ave

Fez-se rainha muito má

Deu-nos uma bela cave

E um chuto para lá


Seu mui fiel escudeiro

Distribui os galhardetes

Como no preço certeiro

Ganhámos dois toalhetes


A eles deixo sensatez

E meu rico coração

Pra que percam altivez

E lhes inspire acção


Aos próximos candidatos

Um banho de água fria:

Afasta os aparatos

Iça a democracia


Importa sempre lembrar

Quem muito a desejou

A cadeira a sentar

Foi o povo que’a pagou


A vigilância, senhores,

Não é pra chibos e tolos

Acabem-se os favores

A quem lhes serve os bolos


Ao Prior quero deixar

Do Teatro o chuveiro 

Pra nossas almas lavar

Generoso enfermeiro


Já a factura da água

À Indáqua vai voltar

Pra que tal fonte de mágoa

Aos seus possa hidratar


Os santos e pecadores

Hão lá de se entender

Entre rezas e credores

O paraíso obter


Às mulheres em geral

Muita lenha pra queimar

O machismo infernal

Que não as deixa sonhar


A igualdade tardia

Já cá devia estar

Não passe nem mais um dia

Sem esta nos governar


Pisga-te, ó populista,

Por cá não fazes tu falta

Já tivemos um fascista

Que bem deu cabo da malta


Receias quem de fora vem

E com ele a diferença traz

Dizes-te pessoa de bem

Não passas dum capataz


Na têvê faz-se estágio

Para se ser bom político

Certo será o naufrágio

Deste povo paralítico


Tarda a desaparição

Deste lixo instalado

Santa comunicação

Do social rebuçado


Já eu parto sem partir

Que a hora apetece

Assim fico eu a rir

Na noite que me merece



Judas

3 de abril de 2021

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