Queima do Judas Vila do Conde 2021
sábado, 3 de abril Radio novela, Testamento e Queima do JudasTestamento do JUDAS
Posso eu não ser poeta
Mas é certo ser problema
Evitei a linha recta
Assim nasceu o poema
Ao dizer o que sentia
Semelhante ao pensar
Esbarrei na apatia
De quem não sabe voar
Fiz-me cinza e viagem
Ri de tudo e de todos
Sem medo da outra margem
Escapei aos vossos lodos
Mais do que palavras fofas
Que o vento há-de levar
Deixo-vos um par d’alcofas
Prós pensamentos deitar
E poder vê-los crescer
Fazer-se grande a obra
O Inverno esquecer
Da noite já pouco sobra
Fazer da arte invento
Capaz do pão pôr na mesa
E mais algum alimento
Prá vida manter acesa
Quem governa se governa
Está escrito é assim
Ou dás depressa à perna
Ou lá se vai o teu rim
Eu também não fui por aí
Nem mesmo por acolá
Tantas vezes eu caí
Não havia ninguém lá
A Vila dá-se ao mundo
Às postas na internet
A cultura vai ao fundo
Sempre a mesma cassete
Nossa princesa do ave
Fez-se rainha muito má
Deu-nos uma bela cave
E um chuto para lá
Seu mui fiel escudeiro
Distribui os galhardetes
Como no preço certeiro
Ganhámos dois toalhetes
A eles deixo sensatez
E meu rico coração
Pra que percam altivez
E lhes inspire acção
Aos próximos candidatos
Um banho de água fria:
Afasta os aparatos
Iça a democracia
Importa sempre lembrar
Quem muito a desejou
A cadeira a sentar
Foi o povo que’a pagou
A vigilância, senhores,
Não é pra chibos e tolos
Acabem-se os favores
A quem lhes serve os bolos
Ao Prior quero deixar
Do Teatro o chuveiro
Pra nossas almas lavar
Generoso enfermeiro
Já a factura da água
À Indáqua vai voltar
Pra que tal fonte de mágoa
Aos seus possa hidratar
Os santos e pecadores
Hão lá de se entender
Entre rezas e credores
O paraíso obter
Às mulheres em geral
Muita lenha pra queimar
O machismo infernal
Que não as deixa sonhar
A igualdade tardia
Já cá devia estar
Não passe nem mais um dia
Sem esta nos governar
Pisga-te, ó populista,
Por cá não fazes tu falta
Já tivemos um fascista
Que bem deu cabo da malta
Receias quem de fora vem
E com ele a diferença traz
Dizes-te pessoa de bem
Não passas dum capataz
Na têvê faz-se estágio
Para se ser bom político
Certo será o naufrágio
Deste povo paralítico
Tarda a desaparição
Deste lixo instalado
Santa comunicação
Do social rebuçado
Já eu parto sem partir
Que a hora apetece
Assim fico eu a rir
Na noite que me merece
Judas
3 de abril de 2021